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Azul é a cor mais bonita que existe, na minha opinião. Meu carro é azul, as paredes da minha sala oscilam em belos tons azuis claros e escuros, a fronha do meu travesseiro é azul e as meias que estou usando nesse exato momento são azuis também. 
Meu primeiro namorado tinha olhos azuis. Não devíamos ter mais de quinze anos quando nos conhecemos. Estudávamos na mesma sala, mas nem eramos amigos. Há uma enorme diferença entre "colega de sala" e "amigo de sala" (por que nem todo "amigo de sala" é de fato "amigo" - e eu só fui perceber isso depois de entrar na faculdade e me sentir abandonada por todos os meus "amigos de sala") e minha relação com os Olhos Azuis é um exemplo perfeito disso: éramos desconhecidos no primeiro ano, bons colegas no segundo ano e amigos/melhores amigos/ namorados no terceiro ano. E é incrível pensar em como nosso relacionamento evolui assustadoramente em um ano.
Nossa sala era assustadoramente proporcional: vinte e cinco meninos para vinte e cinco meninas, então quando fomos estudar genética a professora propôs um trabalho em dupla, dupla a qual era mista e sorteada, onde devia-se fazer um rascunho de como seria o bebê da dupla. No começo não gostei de ter que fazer com ele, ele parecia ser meio babaca então achei que eu teria que fazer tudo sozinha, mas ao longo do desenvolvimento do trabalho ele se mostrou, não apenas muito inteligente, mas também muito sensível, engraçado, perspicaz e atencioso. Nosso trabalho teve a nota máxima e foi muito elogiado, por isso começamos a fazer todos os trabalhos juntos. E de repente minha vó estava convidando-o para ir à casa dela comer bolo. Nos apaixonamos. Nosso namoro não durou mais do quatro ou cinco meses, dependendo do que é considerado o início do namoro: o primeiro beijo ou quando ele me apresentou como namorada para a irmã mais velha (uma verdadeira mala sem alça).
Tínhamos 17 anos então não dá para imaginar grandes coisas de um relacionamento tão jovem. Éramos muito inocentes naquela época também, nada parecia ser apelativo ou maldoso para a gente. Hoje percebo que quando ficávamos na piscina do prédio dele se beijando nós não estávamos sendo exatamente inocentes. Se eu precisasse classificar o meu relacionamento com o Olhos Azuis, classificaria dizendo que ele foi meu último relacionamento bom. Na verdade, éramos tão tolos que eu há dias que eu não considero o que tivemos um relacionamento.
Depois dele veio uma confusão de rapazes confusos, rapazes inseguros, rapazes intelectuais e, principalmente, rapazes tão caóticos que me arrastavam para o caos deles. Quando eu percebia o relacionamento já havia me consumido de tal forma que eu não estava mais um relacionamento, o relacionamento que estava em mim. Eu era o relacionamento em que eu estava. E isso aconteceu várias e várias vezes. Lógico que essa é o tipo de ferida que todo artista deixaria sangrar em nome da arte, mas eu não: sou do tipo de artista covarde que assim que vê a ferida já vai logo fazendo um curativo e anunciando que precisa de repouso absoluto, por que sou dessas que ficam super sensíveis ao menor sinal de imperfeição.
Outra coisa azul é a lagoa. Os canais de televisão não vão se cansar de reprisar esse filme nunca? É um daqueles clássicos da sessão da tarde, como "Curtindo A Vida Adoidado" que você não precisa ter realmente assistido para ter assistido. Na verdade, muitas coisas na vida são assim: nós não precisamos ter vivido-as de fato para saber no que elas podem dar.

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