Image Map


Eu acho que vocês não me aguentam mais ouvir falar do Heitor e do nosso relacionamento, mas adivinhem só: eu sou louca por aquele quatro olhos. 
É bastante complicado para mim falar e ouvir falar o termo "loucura", afinal, durante tantos anos tudo o que eu escutei sobre a minha mãe é que ela era louca. O engraçado é que mesmo depois que ela havia morrido, principalmente depois disso, as pessoas adoravam dissertar sobre o fato da minha mãe ser louca e sobre como a loucura matou ela, sendo que não foi bem isso. Era horrível ir à festas de família e escutar aquelas tias que me pegaram no colo quando eu era bebê dizerem que a loucura da minha mãe era culpa dela e ela que deveria ter aprendido a administrar os problemas dela de uma forma melhor para não ter tido o fim que teve. 
Minha mãe se suicidou, só isso. Não precisa ser um tabu o fato de alguém decidir acabar com a própria vida. Ela só sentia confusa e sozinha. Claro que ela não precisava ter me deixado e que podia ter sido diferente, mas hoje, muitos anos depois, eu percebo que esse foi o jeito que ela encontrou para resolver os problemas dela: algumas pessoas meditam, outras usam drogas e pessoas como ela se matam. É bem simples de entender, quase quinze anos depois. Um tempo atrás, não me lembro exatamente  quanto, eu entrei em paranoia e achei que teria o mesmo fim dela, que eu era louca feito ela. 
A infância é doce porque somos parecidos ou com a mamãe ou com o papai, simples assim. Não tem esse negócio louco de buscar a sua identidade. Na melhor das hipóteses, se você concorda com tudo que seus pais te passaram, essa busca acontece somente na adolescência. Caso você seja como eu, que queria negar ser parecida com a mãe e com o pai, essa busca dura um pouquinho mais. Talvez até o início da fase adulta ou a fase adulta toda.
Esta é a primeira vez que eu admito que eu não faço ideia do que estou fazendo da minha vida. É cruel pensar nisso porque eu deveria estar naquela fase em que penso em casar e ter filhos, mas como posso pensar em ter filhos quando eu não sei o que fazer da minha própria vida? Como posso guiar alguém a tomar boas decisões se nem eu tomo boas decisões? 
É complicado porque ao mesmo tempo que eu estou vivendo um conto de fadas cor-de-rosa de um lado, o outro está completamente preto como sempre esteve e agora que um lado está rosa, o contraste e a necessidade que as coisas se ajeitem é ainda maior, só que não sei como transformar o preto em uma cor mais clara sem desbotar o lado rosa. Eu não sei mudar minha vida sem ferrar com tudo. Eu queria não ter acordado para não precisar pensar tudo isso.

Deixe um comentário