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Tem algo que eu preciso contar para vocês: eu definitivamente quero matar o Nicholas, mas o Heitor não pode saber disso, afinal, estamos falando do meio-irmão-caçula-perdido do Heitor. Claro que quando se tem 17 anos você é naturalmente meio idiota, mas ele se supera. Quando digo que o Nicholas é idiota é no sentindo literal, no sentido de que ele é meio lerdo demais. 
Como ele tem 17 anos, nós decidimos que ele iria ajudar na mudança. Não apenas encaixotando o quarto dele (ok que onde ele dormia não era exatamente um quarto, mas era o suficiente para ele ter um espaço dele na casa onde ele vivia), mas ajudando a encaixotar a casa toda: sala, banheiro, cozinha... Além dele não entender quer os itens da cozinha deveriam ir para a caixa escrito "cozinha", ele quebrou praticamente tudo que ele tocou. 
Como só tínhamos um único final de semana para fazer a mudança, a medida que ele quebrava as coisas e me olhava com aquela cara de "foi mal, Nad" eu apenas ia dizendo para ele deixar para lá e que limpávamos depois. Agora, olhando o apartamento completamente vazio, eu vejo o estrago que aquele monstro em forma de adolescente fez! 
Tem um milhão de estilhaços misturados a temperos no chão da cozinha, alguns no "quarto dele" oriundos de uma coleção de miniaturas que o Heitor comprou quando foi para alguma cidade na serra com a ex namorada (pensando bem, eu acho que deveria agradecer ao Nicholas por isso. Não que eu tenha, de verdade, algum problema com alguma ex do Heitor, eu só não gosto de saber que tem a energia dela na minha casa), na sala foram quebrados todos os vasos que tinham por lá. Quando eu digo todos eu realmente quero dizer todos
Eu quero matar o moleque!
O Heitor disse para eu ter calma (não que ele saiba dos meus planos de matar o irmão dele) e que com o tempo compraremos tudo o que foi quebrado (menos as miniaturas), afinal, não estamos tossindo dinheiro, mas que tudo vai dar certo no final. 
Está sendo muito difícil para mim conviver com o irmão adolescente dele, mais do que eu achei que seria, mais difícil do que conviver com adolescentes do que quando eu era adolescente. Ele é todo quebrado, sabe? Não apenas literalmente (ele é do tipo que quebrou o braço direito duas vezes), mas por dentro. Ele teve uma vida do cão (e não estou falando daqueles cães de madame), nada daquelas histórias dramáticas que as emissoras de televisão sensacionalistas mostram, mas daquelas que, com a sensibilidade dele, foi difícil. Para outras pessoas teria sido moleza, mas para ele não foi e isso não é nenhum defeito e isso que o Heitor tenta falar para ele. Explicar que não é por que você encara a vida de uma maneira diferente da maioria das pessoas, uma maneira aparente mais fraca, você seja de fato mais fraco. Você só é diferente. 
Acho que descobri porque o Nicholas deixa milhões de estilhaços por onde ele passa: na vida sofremos o caminho reverso de vasos, copos e potes: nós nascemos como um milhão de pequenos estilhaços e conforme crescemos vamos nos ajeitamos da maneira que devemos ser e, principalmente, que queremos ser.

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