Meus pais sempre foram um pouco contra o uso precoce da internet e de demais aparelhos tecnológicos, mas aos sete anos eu era uma das únicas pessoas da sala que não tinham MSN, então não teve jeito: comecei a usar o computador grandão e cheio de fios que tinha lá em casa. No começo, só com a minha mãe do lado, mas com tempo ela foi afrouxando ao ver que eu realmente só entrava no site da Barbie, Polly e, no máximo, no Dolls para montar lookinhos para as minhas bonecas - um versão altamente tecnológica das antigas bonecas de papel do tempo da minha mãe.
Nesses quase 15 anos acessando a internet eu reparei que o tempo que eu passo online só aumenta. Quando o acesso a internet era só através do computador era fácil, se eu queria ficar offline era só eu desligar o computador e pronto. Com a popularização extrema dos smartphones, querer passar menos tempo online se tornou uma missão semi-impossível: nossas vidas dependem do nosso acesso a internet.
Claro que biologicamente não precisamos de um smartphone para viver, mas socialmente o aparelho se tornou indispensável porque é lá em que tudo acontece: conversamos com amigos, família e colegas de estudo e de trabalho, ficamos inteirados no que está acontecendo nas nossas esferas sociais, desde avisar que o até mesmo saber que você vai trabalhar de casa porque não tem ônibus. Decidir simplesmente desligar a internet do seu celular é se colocar em uma bolha maior ainda do que a bolha que vivemos com as redes sociais.
Como alguém que está a quase 15 anos online, eu fico profundamente incomodada quando vejo alguém falando "saia do celular e vá viver um pouco!" partindo do ponto de vista que o que faço online é completamente inútil e que se eu tirar os olhos do meu celular automaticamente estarei sendo super produtiva. É ter uma visão muito limitada de mundo, além de uma vontade imensa de querer pagar de pseudo-cult e diferentão.
Eu já cheguei a passar seis horas no meu celular. O número pode assustar, pode parecer que eu sou uma jovem adulta irresponsável, uma refém dos marcos da minha geração, mas a verdade é que na maior parte do tempo que eu estou no meu celular eu estou sendo útil: a maior parte dos meus amigos próximos moram longe, então o celular me ajuda a estar sempre com eles. Existem vários aplicativos para ler livros, eu mesma tenho mais de 100 e-books no meu celular. O Facebook só é um posso de discussões inúteis e propagação de fake news se você deixar, é só seguir páginas com conteúdo legal e amigos que postam coisas relevantes. Mesmo o Instagram, a mais vaidosa das redes sociais, tem bons produtores de conteúdo. O problema não são as redes sociais ou a internet, o problema é quem usa - tanto porque não é como se antes da internet o mundo fosse repleto de gênios e não houvesse população alienada. Na verdade, a tecnologia só aproximou quem tinha algo a dizer a quem queria escutar algo. Este blog é um exemplo disso.
Eu considero uma hipocrisia sem fim quando vejo alguma influenciadora digital good vibes falando abertamente como deixar de usar a internet socialmente foi a melhor coisa que ela fez para a vida dela. Como alguém que vive do que posta nas redes sociais tem a petulância de dizer que a internet fazia mal para ela uma vez que ela vive disso? Se ela realmente acha tudo isso tão tóxico e problemático como ela diz que acha, por que ela não se aposenta e para de ser mais uma mina comum que finge que é diferentona porque não sabe lidar com os seus próprios demônios?
A internet é revolucionaria e mais revolucionário ainda é quem sabe usar ela direito.