Não me lembro de ter ficado tão atônita após assistir um filme como fiquei na noite em que assisti "Fahrenheit 451". Eu não conseguia pensar ou falar sobre nada depois, o filme havia pego em uma parte de mim muito maior do que eu esperava. A reflexão que fizemos sobre o filme depois foi algo muito interessante também. Fascinante para ser exata. Eu fico grata por ter assistido um dos meus filmes favoritos pela primeira tão nova e inserida em um contexto tão interessante.
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"Fahrenheit 451" é originalmente um filme distópico que mostra um futuro caótico onde um governo totalitário controla todos pela manipulação midiática e esta sociedade por sua vez é completamente viciada em medicamentos e há uma presença onipresente da telefonia. Nessa visão de sociedade caótica há muitos elementos que são extremamente comuns na sociedade em que vivemos e ai é que está o problema. A distopia é hoje. Nós vivemos em uma verdadeira distopia e não estamos vendo problema nisso. E este é só um dos vários aspectos maravilhosos deste filme.
O filme François Truffaut verdadeiramente chama atenção por retratar uma sociedade em que qualquer tipo de leitura é proibida é a função dos bombeiros é de destruir livros, queimá-los. E estava indo tudo bem na vida de Montag até que ele tem uma epifania ao ver uma mulher preferir ser queimada viva com seus livros do que deixa-los para trás. Ele passa a se questionar e questionar a sociedade em que vive e seu maior ato de rebeldia é ler. Uma boa parte do filme gira em torno do 'renascimento' de Montag, do despertar intelectual de Montag.
Pode parecer absurdo ao nossos olhos sermos proibidos de ler, mas embora não haja uma proibição ou bombeiros que queimam livros há uma pressão social para que leia-se cada vez menos e livros piores. Quantas vezes já não foi dito, exclamado na televisão ou em qualquer meio de comunicação que as pessoas estão lendo cada vez menos? Quanto já não foi reduzido os textos jornalísticos para que eles fossem realmente lidos?
É um filme memorável e não apenas devido as questões que ele levanta, mas por ser o único filme em inglês de Truffaut (francês). São características muito repudiadas por nós quando são colocadas sob uma perspectiva mais distante, como eu um filme, mas extremamente bem aceitas quando inseridas em nossas rotinas. Se você é um amante da leitura, assista a este filme. Se você é um amante do cinema, assista a este filme. Se você quer apenas ser provocado a pensar um pouco fora da caixa, assista a este filme. Em qualquer caso assista a este filme.