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A última vez que nos falamos foi no Dia dos Namorados, uma mensagem tola e descompromissada como quem dissesse "eu ainda estou aqui". Não conversamos realmente, apenas uma troca de palavras frívolas e despretensiosas de duas pessoas que são incapazes de usar a linguagem que a elas foi ensinada. Dois estranhos que já compartilham dos mesmo segredos. Dois estranhos que não foram apenas cúmplices no amor, mas como nas palavras que jamais foram ou serão ditas. Cúmplices do silêncio de um olhar.
Hoje é seu aniversário e fiz questão de lembrar. Conversamos. Nada saiu. Nada além de um silêncio sufocante medido em palavras. Fiquei feliz em te ver, você está cada vez mais sorridente e chego a me questionar se isso tem algo haver com a minha ausência na sua vida, prefiro pensar que não. A ideia de te ver feliz apenas por estar longe de mim me mata, embora te ver infeliz ao meu lado me mate ainda mais. Se é para morrer que seja com uma morte sofrida. 
Somos estranhos com memórias em comum. Somos estranhos com uma história traçada, mas quem  diria que iríamos acabar assim? Quem diria que iríamos acabar separados pelo destino e pelas circunstâncias? Quem seria o cético a dizer que os sonhos morreriam e que tudo que sobraria seriam nossas cinzas? Nunca foi-se imaginado que as cinzas deixadas seriam nós.
Talvez não funcionássemos tão bem como me recordo ou talvez nos conhecemos no dia errado e na hora errada. Talvez não fossemos maduros para um relacionamento como o nosso. Será que um dia seremos? Será que isso tem volta? Será que arrependimento mata?
Não dá para retirar o que foi dito ou voltar as palavras que foram gritadas afim de causar dor. Talvez o maior erro, se é que houve um único grande erro, foi pensar que a dor que as palavras causariam fossem capaz de construir um alicerce para um prédio quase desabando, pensar que causar dor no outro fariam de alguma maneira o relacionamento perpetuar.
No início do nosso fim começamos a pensar que ter motivos para perdoar faria a prisão que estávamos nos colocando deixar de ser uma prisão, mas não contávamos que uma prisão sempre seria uma prisão, mesmo que estivéssemos presos por vontade. Ter motivos para perdoar não garante o perdão assim como o perdão não garante que alguma coisa esteja bem. 
Estar presa por vontade ao seu lado foi uma daquelas grandes bobagens que costumamos fazer quando acreditamos demais na nossa juventude, quando estamos desesperados para viver experiências que nos transforme e renda textos sentimentais como esse que está sendo escrito neste exato momento. Dançamos uma dança muda ao som de dor e com movimentos de sofrimento. Hoje não sou capaz de dividir meu refrigerante contigo, mesmo que um dia já tenha cogitado dividir minha vida. Somos dois estranhos que sabem amar, que amam muito, mas não juntos e não um ao outro.


Beijos
S.S Sarfati

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