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Gay Talese em O Voyeur
Gay Talese ao lado das caixas em que guarda suas anotações/Divulgação


Eu entrei na faculdade Jornalismo lá em 2016 e algo que eu me lembro que era muito frequente no primeiro semestre nas aulas de Introdução ao Jornalismo (não me lembro se era exatamente este o nome da matéria, mas era para isso que ela servia) era as discussões sobre ética. Um ano depois, em 2017, já na PUC, eu tive uma aula só para isso. Eu achava as aulas de Ética muito chatas e frequentemente ficava distraída durante as aulas, mas em uma das aulas em que eu estava prestando atenção, o professor falou sobre o Gay Talese. Eu sabia quem ele era porque havia assistido a uma entrevista dele no Roda Viva muitos anos antes, mas meu conhecimento se limitava a isso. Então foi quando meu professor começou a falar sobre as obras de um dos grandes nomes (se não o maior nome) do New Journalism (ou Jornalismo Literário) até chegar a sua obra mais recente: O Voyeur. 
“Conheço um homem casado, com dois filhos, que comprou um motel de 21 quartos perto de Denver, há muitos anos, a fim de se tornar um voyeur residente.” Assim começa a espantosa história que Gay Talese, um dos maiores nomes do jornalismo literário, narra em O voyeur. O homem é Gerald Foos, que construiu uma “plataforma de observação” para bisbilhotar a vida de seus hóspedes. Intrigado, Talese investiga os diários do proprietário, um complexo registro de suas obsessões e das transformações da sociedade americana, mas só após trinta e cinco anos o jornalista pode divulgar a história. Um trabalho extraordinário e polêmico do repórter que mudou para sempre a face do jornalismo.
Gerald Foos, personagem central do livro, o voyeur, é uma figura quase que excêntrico e no documentário é possível visualizar isso com bastante clareza. Desde o início Talese deixa bem claro que ele não é o personagem mais confiável de todos. A dúvida que foi levantada por várias pessoas, inclusive eu, é porque alguém com a credibilidade do Gay Talese faria um livro todo sobre a história de uma pessoa a qual ele não poderia confiar no que estava sendo dito? Todo o livro é feito em cima de anotações meticulosas que Foos fazia sobre o que via nos quartos do seu motel e, em alguns momentos, as anotações deixam de ser apenas sobre sexo e passam a ser sobre  comportamentos e hábitos. É praticamente um livro de relatos e me decepcionou muito, além de a sinopse vender uma história que não existe. Eu cheguei a ver o termo "confissões de um bisbilhoteiro" para se referir ao livro e achei que este seria o subtítulo mais adequado possível. É muito difícil separar o livro do Gay Talese e a entrevista que ele deu para a Paris Review é um  show a parte, ele parece ser uma pessoa formidável e eu me identifico com ele em tantos aspectos que por menos que eu tenha gostado do livro, é impossível dizer que eu odiei. Em vários momentos a vida e a história de Talese se misturam com o Jornalismo e dão ao leitor uma perspectiva totalmente única. 
Apesar da prática voyerística ser algo totalmente sexual, O Voyeur é um livro que não tem a sexualidade dos observados como assunto principal, é muito mais voltado para as práticas sociais que acabam refletindo no sexo do que o contrário. É quase irônico ler um livro sobre um voyeur em uma sociedade em que somos observados por voyeres o tempo todo com câmeras olhando cada passo que damos, onde todo nosso trafego online também é totalmente registrado, onde os reality shows bombar porque as pessoas gostam de observarem as outras. Nossa sociedade é voyeristíca. 

E você, tem vontade de ler esse tipo de livro?
Beijos
S.S Sarfati



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