Eu sei, eu sei, eu andei sumida nos últimos meses e desde que eu criei este blog lá em 2012 ele nunca ficou tão parado - a página no Facebook nem se fale! É esquisito dizer isso, mas eu acho que me sinto tão a vontade de ficar semanas sem postar justamente porque eu sei que quando eu voltar e abrir a página do Blogger vai ser como se nada tivesse acontecido - pelo menos para mim e neste momento da minha vida, seguir plena com a minha vida é o que mais importa. Construir uma audiência, impactar as pessoas com o que eu tenho a dizer é meu grande plano de vida, mas neste exato momento sinto que preciso focar em mim.
A real é que o fim do semestre e a minha falta de organização que foram os grandes responsáveis para eu acabar deixando o blog ainda mais de lado, mas é aquela coisa: eu faço faculdade, eu trabalho e cuido da minha casa, não consigo abraçar o mundo. Algo sempre vai ficar de fora, nem que seja só por um breve momento.
Por isso eu queria mostrar para você uma das matérias que eu fiz para a faculdade neste semestre. Como a matéria é minha, vou colocar ela íntegra e o correto é sempre dar os créditos. O tema era livre, então eu falei sobre o assunto que mais gosto: livros!
Não é novidade para ninguém que o mundo é um lugar extremamente machista. Mulheres são mortas apenas por serem mulheres, seus corpos são violados pelo prazer da crueldade e são desvalorizadas e menosprezadas apenas por terem nascido com dois cromossomos X. Entretanto, apesar das dificuldades sofridas todos os dias pelo “sexo frágil”, elas não desistem e correm atrás do que querem e uma área em que elas conseguiram protagonismo foi na Literatura.
Apesar de ser considerada uma área de intelectuais e pessoas cultas, a Literatura é tão machista quanto todos os outros ambientes e uma prova disso é a quantidade de mulheres ganhadoras do Prêmio Nobel de Literatura, o prêmio mais importante da categoria: dos 114 ganhadores do prêmio, apenas 14 foram mulheres, ou seja, apenas pouco mais de 10% dos vencedores não são homens - ainda que tenhamos várias autoras consagradas na história mundial. No Brasil a situação não é diferente: Na FLIP, Festa Literária de Paraty, a maior festa literária do mundo, dos 17 homenageados apenas três mulheres foram destaque.
O termo ‘chick-lit’ vem da gíria americana ‘chick’, usada para se referir a uma mulher jovem e ‘lit’ é abreviação de ‘literature’, (‘literatura’, em tradução livre) e é usado para se referir a Literatura Feminina, mas não exatamente de uma maneira positiva: ‘chick-lit’ são os “livros de mulherzinha” considerados fúteis e com temática leviana simplesmente por terem sido escritos por mulheres. Por isso, montei uma lista com vários livros escritos por mulheres incríveis para mostrar que “livro de mulherzinha” deveria ser considerado um elogio:
Svetlana Alexievich, a mais recente mulher a ganhar o prêmio Nobel, em 2015, escreve livros-reportagens riquíssimos em detalhes, abordando na maior parte das vezes temas como a Segunda Guerra Mundial e a URSS de maneira sensível que sempre coloca o leitor no ponto de vista de quem tem a história contada. No Brasil, seus livros mais famosos são ‘As Vozes de Tchernobyl’ que trata do desastre nuclear de Chernobyl, na atual Ucrânia, em 1986 que provocou a morte de cerca de 80 mil pessoas por conta da tragédia e que aproximadamente 2,4 milhões de pessoas ainda sofram com os efeitos do acontecimento até os dias de hoje. Em ‘A Guerra Não Tem Rosto de Mulher’ Alexievich narra a história das quase um milhão de mulheres que lutaram no Exército Vermelho (União Soviética) na Segunda Guerra Mundial a partir do ponto de vista delas, em uma visão que foge da narrativa comum masculinizada.
Agatha Christie, ou a dama do crime para os mais íntimos das suas obras, é uma escritora britânica nascida em 1890 e ao longo dos seus 85 anos de vida escreveu mais de 50 livros consagrando seus principais personagens Miss Marple e Hercule Poirot - este sendo o primeiro personagem a receber um obituário no New York Times em Agosto de 1975. Ao longo dos séculos XX e XXI, Christie vendeu mais de 4 bilhões de livros, ficando atrás do também britânico William Shakespeare e da bíblia, em mais de 100 idiomas. Entre suas obras mais famosas pode-se encontrar ‘Assassinato no Expresso do Oriente’, ‘E Não Sobrou Nenhum’ e ‘Morte no Nilo’.Frequentemente suas obras são adaptadas para o cinema e televisão, sendo uma das situações mais recentes em 2017 em mais uma adaptação de ‘Assassinato no Expresso do Oriente’ para o cinema contando com grandes atores no elenco como Johnny Depp e Michelle Pfeiffer. Na 4 temporada da mundialmente famosa série de ficção científica ‘Doctor Who’, há uma homenagem à autora no episódio ‘O Unicórnio e a Vespa’ em que além das claras referências a livros como ‘Um Corpo na Biblioteca’, a própria Agatha Christie faz parte da história e ajuda Doctor e Donna a investigarem assassinatos ocorridos em uma casa. No episódio há uma breve explicação, dentro daquele contexto, de porque ela teria desaparecido em 1926 por duas semanas. Esta foi a maior audiência da temporada.
Jane Austen é considerada por muitos a maior escritora britânica de todos os tempos. Suas obras têm, predominantemente, uma temática que reflete a realidade da vida aristocrática da Inglaterra do século XIX através de uma escrita especialmente irônica na descrição dos personagens. Entre os anos 1797 seu pai quis publicar ‘Orgulho e Preconceito’, mas o editor recusou alegando que o material não era bom o suficiente. Sua obra foi concebida entre os conturbados períodos georgiano e vitoriano e o período de regência de George 4.º e estes acontecimentos impactaram suas obras através de uma escrita mais precisa em relação a sociedade rural, sem destacar tanto as mudanças ocorridas na época. Ainda neste período acontecia a Revolução Agrária e se iniciava a Revolução Industrial - afetando imensamente a maneira que era possível adquirir riquezas, tornando a sociedade menos dependente da aristocracia. Austen é considerada muito instruída intelectualmente para uma época em que não havia sistema educacional, especialmente por ser mulher. Ela começou a escrever com cerca de 16 anos e suas obras têm características consideradas por muitos estudiosos como feministas. Austen nunca se casou e teve uma morte precoce aos 42 anos, impossibilitando-a de deixar um legado ainda maior para a posterioridade. ‘Orgulho e Preconceito’ é um dos grandes marcos na história da literatura mundial sendo responsável por difundir sua carreira como autora em 1813, dois anos antes já havia publicado ‘Razão e Sensibilidade’. Nos anos seguintes publicou ‘Mansfield Park’, ‘Emma’, ‘A Abadia de Northanger’ e ‘Persuasão’ - publicado no ano seguinte da sua morte em 1817.
Não é possível falar de literatura feminina sem mencionar a maior teórica do feminismo contemporâneo, a parisiense Simone de Beauvoir. Nascida em 1908, a filósofa frequentou a Universidade de Paris (Sorbonne) onde teve seu primeiro contato com aquele que seria considerado o amor da sua vida e uma das grandes mentes do século XX, Jean-Paul Sartre que assim como ela seria da corrente filosófica do Existencialismo. Beauvoir escreveu diversos romances, ensaios biografias, autobiografia e monografias sobre Filosofia, Política e questões sociais. Seu livro mais famoso é ‘O Segundo Sexo’ publicado em 1949 e que trás uma análise detalhada da opressão das mulheres através da História e é considerado o início da segunda onda feminista que começou no início dos anos 1960 e durou cerca de 20 anos. O livro vendeu 22 mil cópias na primeira semana e foi traduzido para mais de 40 idiomas e chegou a ser colocado na lista de livros proibidos do Vaticano. Ao longo de seus quase 80 anos de vida, Beauvoir publicou mais de 20 livros e veio a falecer em 1986, seis anos após Sartre, em decorrência de uma pneumonia. Ela está enterrada no mesmo túmulo que ele no Cemitério do Montparnasse em Paris.
J.K Rowling é considerada por muitos especialistas a maior escritora da atualidade. Responsável pelo universo do bruxo Harry Potter, Rowling continua sendo aclamada pelos fãs mesmo que 12 anos após o lançamento do livro, ‘Harry Potter e as Relíquias da morte’, que encerra, pelo menos por enquanto, a saga de um dos bruxos mais famoso da ficção. A adoração que os fãs têm por ela não é à toa: desde 2011 a autora tem o Pottermore, um site dedicado exclusivamente a dar mais detalhes da história do bruxinho e desde 2016 a autora passou a se dedicar a compartilhar detalhes do que aconteceu antes da história do Harry Potter propriamente dita, na franquia cinematográfica Animais Fantásticos. O nome vem do livro lançado em 2001 como spin-off, já que na saga este é um dos livros didáticos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. O filme ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ chegou às telonas em 2016 e conta a história de Newt Scamander, em 1926, uma espécie de biólogo do mundo bruxo, que decide catalogar as criaturas mágicas em um livro. Scamander foi expulso de Hogwarts, mas é tido na mais alta consideração por Alvo Dumbledore que na época ainda não era Diretor da escola, e sim professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Dumbledore conta com Newt para ajudá-lo a derrotar Grindelwald - um excepcional bruxo que foi dominado pelas forças das trevas e passa a disseminar idéias de pureza da raça bruxa, aniquilação dos não-bruxos e outras idéias fascistas que infelizmente se aplicam aos dias de hoje. O que torna J.K Rowling tão fantástica é a capacidade de criar um universo tão grande e carismático nos mínimos detalhes cativando os leitores de uma forma intensa ao ponto de ter uma área totalmente dedicada ao universo bruxo no parque da Universal em Orlando.
Última da nossa lista, mas não menos importante: Clarice Lispector. De origem judaica, nasceu em 1920 na Ucrânia e veio para o Brasil com 2 anos em decorrência da perseguição aos judeus na época da Guerra Civil Russa (1917-1923). Sem nenhum laço com o país do Leste Europeu, Lispector viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro e estudou Direito na atual UFRJ a partir de um desejo de reformar as penitenciárias no país. Todavia, ela não gostou do curso e decidiu se dedicar à literatura. Após a morte do pai em 1940, ela teve diversos empregos até que em 1943, ano do lançamento do seu primeiro romance ‘Perto do Coração Selvagem’, casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente fazendo com que mudasse de país com bastante frequência. Ao longo do casamento, Lispector não deixou a literatura de lado escrevendo outros dois livros no período. Sua primeira publicação acontece em 1952, no jornal “Comício” e assina a “Entre Mulheres” com o nome Tereza Quadros. Teve dois filhos e seu mais velho foi diagnosticado com Esquizofrenia, situação de estresse que levou seu casamento ao fim em 1959 pois ela não queria abrir mão de sua carreira e querendo cuidar do filho esquizofrênico em um local fixo. A partir daí começou escrever para vários jornais sob pseudônimos ou Ghost-Writer. Em 1977, pouco tempo após o lançamento da principal obra da sua carreira ‘A Hora da Estrela’, ela descobriu um câncer no ovário inoperável e que já havia se espalhado. Faleceu em Dezembro do mesmo ano. Entre suas obras mais famosas, estão clássicos como ‘A Paixão Segundo G.H’, ‘A Vida Íntima de Laura’ e contos como ‘Laços de Família’, ‘Legião Estrangeira’ e ‘Felicidade Clandestina’ .
Seria possível fazer páginas e páginas elogiando mulheres fantásticas que escolheram dedicar a vida a Literatura e fizeram isso muito bem. No Brasil temos escritoras como, Cecília Meireles e Thalita Rebouças - uma das grandes, se não a maior, responsáveis por popularizar a literatura jovem no país nos anos 2000 e vários dos seus livros são adaptados para o cinema e teatro. Fora do Brasil, é possível encontrar Meg Cabot, Jojo Moyes, Sophia Kinsella. Escritoras de enorme sucesso comercial e que fazer uma literatura de qualidade para o seu público. Se as editoras não escolhem por bom senso publicarem livros escritos por mulher, o público deve exigir isso delas e ficar em cima. Representatividade importa e por isso, homens e mulheres devem se unir na busca por direitos iguais - todos só tem a ganhar com isso.
Confira no player abaixo a atriz e escritora Maria Ribeiro dando sua opinião sobre Literatura porque não basta publicar mulheres, precisa escutar o que elas têm a dizer: