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Jornalismo Literário


Eu sou uma jornalista completamente apaixonada por Literatura! 

Ainda não me formei, mas já me digo jornalista por acreditar que a profissão transcende o diploma e justamente por ser um área que não é possível colocar em uma caixinha que eu acho o Jornalismo tão fantástico e escolhi ele como profissão. A questão é que eu amo o Jornalismo, mas nem sempre gosto dele, entende?

Não é por ser uma jornalista orgulhosa que eu gosto de todas as áreas, eu detesto televisão - por exemplo. Entrei na faculdade sabendo que não queria Tv de jeito nenhum e depois que fiz as matérias específicas passei a odiar isso. É lindo de assistir, mas fazer aquilo não é para mim. Outra área que eu descobri que desgosto profundamente, e isso foi uma surpresa até para mim, é a área de Redação. Justo eu que escrevo desde os 13 anos de idade cheguei aos 22 falando que eu faria de tudo no Jornalismo menos Tv e Redação. A verdade é que o texto jornalístico tradicional é muito sem graça. Você não pensa para escrever, você segue a receitinha e tá pronto. Depois que você treina bastante é quase impossível errar um texto tão simples. O texto jornalístico é caracterizado pela objetividade, tudo o que os meus textos não têm.


Sejamos honestos, será que só eu me sinto "broxada" pelo texto tradicional? Será que só eu que abomino o lead? A resposta é claro que não! Muita gente se sente assim e por isso, na década de 1960 nos Estados Unidos surgiu um gênero jornalístico que seria uma alternativa ao texto objetivo e guiado pelo lead, o New Journalism ou Jornalismo Literário como é conhecido no Brasil.

Apesar do termo ter sido usado pela primeira vez apenas em 1973 por Tom Wolfe, é considerado que o primeiro texto do gênero foi um perfil do ator Marlon Brando intitulado 'O duque em seus domínios' escrito por Truman Capote em 1965 - que viria a consagrar sua carreira literária com o livro 'A Sangue Frio' (um clássico da faculdade de Jornalismo) no mesmo ano em que Capote reconstrói um assassinato brutal de uma família no Kansas. O primeiro capítulo da obra foi publicado  na página 57 da revista que viria a se consagrar na área do Jornalismo Literário, The New Yorker.

Criada em 1925, a The New Yorker é uma revista semanal com 47 edições por ano, sendo cinco edições quinzenais que foi criada com o intuito de cobrir a vida cultural da cidade de Nova York. De caráter urbano e cosmopolita, a revista foi responsável por popularizar a crônica literária, os textos de perfil e o próprio Jornalismo Literário. Grandes expoentes do gênero, como Gay Talese, publicam seus textos nela até hoje.

Gay Talese (aquariano e de família italiana com eu) escreveu um dos grandes textos do gênero para a revista Esquire em 1966. A partir de Novembro de 1965, Talese passou três meses seguindo os passos e observando de perto a vida de uma das grandes vozes da música: Frank Sinatra que tinha certa fama de não ser muito agradável com a mídia, estava chegando aos 50 anos em meio a várias polêmicas e, especialmente, recusou entrevistas para a Esquire várias vezes antes. O texto custou mais de 5 mil dólares em despesas para a revista, mas lhe rendeu a fama de ter publicado um dos perfis mais famosos e memoráveis da história: Frank Sinatra Has a Cold. Inclusive, escrevi uma resenha do livro O Voyeur em 2018.

O gênero que também é conhecido como Jornalismo de Autor tem como objetivo revelar um mundo subjacente que o "Jornalismo de Lead" não revela. São usadas técnicas que são predominantemente do mundo literário para que seja produzido textos de não-ficção. É um gênero jornalístico que permite o ao autor ficar imerso na história em que está contando e por isso prioriza a verdade sobre os fatos.

Eu me lembro que em 2009 eu assisti uma entrevista do Gay Talese para o programa Roda Viva (TV Cultura) e soube que era aquilo que eu queria fazer para a minha vida. Hoje, 10 anos depois, começo a planejar meu TCC do curso de Jornalismo com uma influência bem grande do Jornalismo Literário e lamento muito que o gênero não tenha um sucesso comercial no Brasil. No player abaixo é possível assistir a entrevista, na íntegra, com legendas em Português:


Beijos
S.S Sarfati



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